I.
Fotografia tirada com a Fujifilm X-100s, a 22 de Março de 2025, no âmbito do Workshop de Fotografia de Rua do Instituto Português de Fotografia.
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II.
O Mercado de Matosinhos é uma das minhas mais antigas recordações de infância. Inaugurado no início da década de 50, coabita com a ponte móvel que, paredes-meias com o porto de Leixões, formam um conjunto que simboliza a modernidade que a cidade procurava em meados do Século XX.
Desses tempos, do Mercado, guardo a memória da sua dimensão que, aos olhos de uma criança de 5 ou 6 anos, se apresentava com uma estatura imponente mantendo, no entanto, a elegância que o caracteriza até hoje.
Fui, desde então, frequentador pouco assíduo do mercado. Os tempos caminharam noutra direcção e, caminhando com eles, acabamos a comprar peixe e fruta ao Domingo de manhã, numa qualquer grande superfície perto de casa.
Voltei a entrar no Mercado, desta vez com uma câmera a tiracolo e o firme propósito de fotografar o seu interior.
Porta adentro, as grandes clarabóias que rasgam transversalmente a cobertura em abóbada, iluminam de forma vibrante o peixe que, poucas horas antes se debatia com os bravos pescadores de Matosinhos. No piso superior, legumes viçosos e frutas coloridas são tentação bastante para os que por ali passam. Matosinhenses ou forasteiros, compradores regulares ou turistas admirados com a frescura que a luz difusa e o sorriso das vendedoras realça como nenhuma luz artificial consegue.
Espreitando através da lente, senti então renascer um olhar de criança, um fascínio que há muito não experimentava. Uma vontade de falar com os que ali vendem diariamente, de admirar os rodovalhos e as nabiças. Senti, como há 50 anos, uma enorme admiração pela obra de engenharia que é a cobertura abobadada, como voltei a encantar-me com o frenesim que enche o espaço com uma alegria quase palpável. Tudo ali é fresco e húmido, tudo ali parece natural e sem artifícios. Basta, pois, olhar as pessoas e, educadamente, fotografá-las no que elas são, no que de melhor fazem.
Comigo trouxe, para além de fruta e belas imagens, histórias de vida e a vontade de voltar.
III.
Os mercados mudaram. Hoje, se entramos no Bolhão é para o mostrar a um amigo de passagem pelo Porto, se entramos no Bom Sucesso é para comer um qualquer prato gourmetizado. Nunca para comprar produtos frescos ou peixe.
O Mercado de Matosinhos, no entanto, para além de manter a sua função original, oferecendo grande variedade de produtos do mar e da terra, pode (e deve) ser mostrado como o Bolhão, dispondo, ao mesmo tempo, de magníficas possibilidades para comer, como o Bom Sucesso. Dentre elas, destaco o Mercado Food & Drinks, não só pela excepcional qualidade da comida, mas também pelo staff que atende cada um dos comensais com um sorriso e o à vontade com que se servem velhos amigos.
Imperdível é também o Rally Fish, evento gastronómico promovido pela Câmara Municipal de Matosinhos, em que inúmeros restaurantes espalhados pela cidade oferecem um menu com um petisco relacionado com o mar e um copo de vinho por um preço apetecível (3,5€ em 2024). Aproveitem a próxima edição, conheçam o Mercado de Matosinhos, experimentem a sopa de peixe do Mercado Food & Drinks.
“Grand Tour” é uma newsletter com periodicidade indefinida, que publicará ocasionalmente uma fotografia acompanhada por um texto que a contextualiza e que poderá incluir algumas referências e sugestões relacionadas com a ocasião ou o local retratado.
Adorei o texto, as fotos e o novo nome da tua newsletter. Mercados como o de Matosinhos têm um quê de mágico. Também fiquei interessada neste workshop de fotografia de rua de que falas. Boas viagens, Pedro!